segunda-feira, 20 de junho de 2016

SALOMÃO, REI  E  MAGO

   Olá pessoal! Vou fazer um post sobre alguns pontos pouco explorados a respeito de um personagem conhecido da tradição judaica, cristã e muçulmana: o rei Salomão. Vamos fazer esse post dedicado ao oculto para contrabalancear, já que o anterior foi sobre conspiracionismo.
   As informações que temos sobre o rei Salomão vem basicamente da Bíblia, especificamente o Primeiro Livro dos Reis, desde o cap.1 até o cap.11(sempre que possível vou registrar as fontes pra que o leitor possa pesquisar por conta própria). 
   Ali, ficamos sabendo que Salomão (que teria vivido por volta do ano 1000 a.C)foi coroado rei ainda com seu pai Davi vivo, que lhe fez recomendações antes de morrer. Salomão ao oferecer sacrifícios em um lugar alto(ainda não havia templos estabelecidos) na cidade de Gabaon, ao dormir ali, Deus lhe apareceu em um sonho e disse que daria a ele o qualquer coisa que pedisse. Salomão pediu sabedoria por se achar ainda muito jovem para conduzir um povo tão numeroso. Deus deu a ele discernimento e estabilidade no reino, desde que observasse seus mandamentos. O que se segue é a preparação para construção do Templo, onde deveria ser depositado a Arca da Aliança, o baú feito sob orientação divina por Moisés onde está depositado as tábuas escritas com os dez mandamentos. Temos ainda passagens (muito romanceadas hoje em dia) envolvendo a rainha de Sabá e o fim dos dias de Salomão. Mas onde entra a magia? Em lugar nenhum da Bíblia onde se fala de Salomão. Mas o Alcorão insiste em retratar o lado mágico de Salomão. Também temos referências a esse lado mágico dele no Talmud(livro de tradições judaicas) no Kebra Nagast(significa "Glória dos Reis" é um livro considerado sagrado da Etiópia) o "Testamento de Salomão"(texto pseudoepigrafado, ou seja: o autor atribuiu sua autoria a Salomão, usou o nome dele) alguns ditos "grimórios" Clavícula Salomônica e Lemegeton(Chave Menor de Salomão). Livros que trataram e muito bem sobre esse aspecto oculto do rei e que recomendo são: "Os Vingativos Djinns" de Rosemary Ellen Guiley e Philiph J. Imbrogno, lançado aqui pela Madras Editora e "A Chave de Salomão" do autor Lon Milo Duquette lançado aqui pela Editora Pensamento.
   Resumindo, essas tradições dizem que quando Salomão se dispunha a realizar a construção do templo um demônio vampírico chamado Ornias atormentava uma criança filho do capataz da obra. Salomão orou a Deus que lhe entregasse tal demônio, em resposta Deus deu a Salomão, através do arcanjo Miguel um anel, através do qual poderia subjugar todos os djinns/demônios. Com o poder desse anel Salomão subjugou Ornias, o forçou a convocar outros demônios, catalogou eles (registrou suas aparências, nomes, meios através do qual poderiam ser subjugados e poderes que tinham) e os forçou a trabalhar na construção do Templo. Eles eram enviados a trazer rubis e outras pedras preciosas, mergulhavam atrás de pérolas, traziam mármore das pedreiras, transformavam(ou transmutavam se preferir) a terra em fontes de cobre e estanho(bases da composição do bronze, liga largamente usada na antiguidade). Veja uma ilustração do Livro de Belial(Das Buch Belial) de Jacobus Terramo, publicado em 1473 em Augsburg, mostrando Salomão reunindo os demônios:


   As histórias dizem que durante os anos que duraram a construção do Templo, nunca chovia durante o dia, para não atrapalhar a obra, e no canteiro de obras não era ouvido barulho algum de ferramentas(homens e djinns trabalhavam em silêncio). Não bastasse essas maravilhas, Salomão ainda podia ouvir e entender a fala dos animais(poder atribuído a muitos magos da história como Pitágoras e Melâmpus da mitologia grega) um pequeno pássaro comum no norte da África e várias partes da Europa chamado de Apipe ou Poupa era seu informante particular, viajando pelo mundo e lhe trazendo informações(lembra da referência a Odin com seus dois corvos no primeiro post?). O Talmud judaico conta que Salomão tentou negociar com o demônio Asmodai(ou Asmodeu) para que esse lhe trouxesse o verme Shamir capaz de cortar o mármore de maneira silenciosa e deixá-lo liso e polido. Aqui uma representação de Salomão feita no estilo persa, o estilo que comumente retrata Maomé e o anjo Gabriel, cuja característica mais notável é uma espécie de "fogo" que exala da cabeça dos santos ao invés da "auréola" das representações cristãs. Salomão está ao centro conversando com um personagem tendo a seus pés muitos animais submissos, no lado direito dois djinns/demônios que lhe servem apesar da cara de desgosto e do lado esquerdo dois anjos:

   Salomão também podia pedir ao vento que lhe levasse pelo ar para qualquer parte do mundo, poderia levar sua corte inteira que se reunia num tapete que era levantado no ar(de onde veio a história do "tapete mágico"). Aqueles djinns/demônios que eram rebeldes ou que ele considerava perigosos demais para permanecerem livres ele os prendia em jarros de bronze cobertos de malha de ferro e com tampa de chumbo(daí as histórias de gênios presos em lâmpadas e garrafas). 
   Mas nem tudo era maravilha na corte de Salomão, pois, o rei sofria de um mal que também seu pai sofria: excesso de desejo por mulheres. Lembremos que Davi cometeu um crime deplorável por causa de seu desejo. No Segundo Livro de Samuel, cap.11, narra que Davi viu uma bela mulher se banhando e desejou-a, era Betsabé, esposa de Urias, um soldado de seu exército. Davi armou para que Urias fosse colocado na frente da batalha mais ríspida e assim morresse, podendo ele tomar sua esposa(que viria a gerar Salomão seu filho e sucessor). Segundo o Kebra Nagast, Salomão se casou com 400 rainhas(filhas de origem nobre) e tinha 600 concubinas(não eram consideradas esposas oficiais mas lhe serviam sexualmente) ou seja: mil mulheres! A Bíblia diz 700 esposas nobres e 300 concubinas, mas, não devemos levar esses números ao pé da letra, pois, é comum escritores antigos aumentarem os números para dar ênfase a ideia que queriam exprimir. Seja como for, Salomão se apaixonou por uma mulher jebuseia. Os sacerdotes lhe prometeram dar essa mulher se ele adorasse seus deuses os abomináveis Moloch(se fazia uma estátua com feição de boi e se sacrificavam crianças para essa aberração inominável) e Remphan. Veja uma representação desse abominável ídolo ao qual se entregavam os próprios filhos para serrem imolados e jogados na fogueira, ao som do choro das mães, para supostamente se obter "prosperidade" e que sabemos que ainda nos dias de hoje em algumas sociedades secretas, e até mesmo dentro do Vaticano se pratica tal ato inominável:


   Salomão prestou adoração a esses, conseguiu a mulher, mas Deus o castigou transformando-o em um mendigo irreconhecível(lembremos da máscara dada a Ulisses em seu retorno a Ítaca que o deixava com aparência de mendigo velho) e o obrigando a mendigar o pão por 40 dias(número cabalístico que aparece várias vezes na Bíblia e significa um período de provação) enquanto um djinn assumia sua forma e o representava no trono. Além disso, Deus tirou dele a estabilidade do reino após sua morte. Também no Kebra Nagast é narrado que a filha do Faraó com ele se casou e o levou a adorar o ídolos egípcios. Mesmo com todas as vantagens que Deus lhe deu, e a sabedoria que lhe foi concedida, Salomão foi levado a loucura por causa de seu desejo exagerado pelas mulheres, lamentemos uma biografia quase perfeita.
   Por fim, Salomão estava velho e soube que sua morte chegaria em breve. Ele ordenou que ninguém de sua corte falasse de sua morte, e se apoiou em seu cajado, enquanto os djinns continuavam a trabalhar na construção do Templo, morreu em pé apoiado em seu cajado, e se não fosse pelos cupins que roeram seu cajado fazendo o corpo despencar, os djinns continuariam trabalhando atarefados, porque o corpo permaneceu muito tempo de pé. Salomão fez isso pra provar que eles não sabiam prever o futuro, pois, se soubessem do futuro, se libertariam assim que o rei morresse, foi uma lição dada pelo rei para os humanos para não acreditarem nos djinns/demônios quando dizem poder prever o futuro. Essa passagem se encontra no Alcorão capítulo(capítulo é chamado de "sura" em árabe) 34 versículo 14:
 
   "Quando decretamos sua morte, não houve para avisar de seu fim senão o verme da terra(cupim) que roeu o cajado sobre o qual se apoiava. E quando tombou, os djinns verificaram que, se conhecessem o invisível,(o insondável, as coisas ocultas como o futuro ou o destino) não permaneceriam na sua aviltante aflição."

   Esse foi o fim de Salomão. É da tradição árabe que vem as mais belas histórias envolvendo Salomão e seu poder sobre os djinns como nas Mil e Uma Noites. O que aconteceu com o anel mágico dado a ele pelo arcanjo Miguel, capaz de submeter os djinns/demônios? Não sabemos, se perdeu nas brumas do tempo, tal artefato de tamanho poder não ficaria por aí dando sopa, desapareceu e não sabemos pra onde. Quanto aos "grimórios" Clavícula Salomônica e Lemegeton são obras de conjuradores que usaram o nome de Salomão em suas obras. Através de erros e tentativas formularam livros com instruções sobre conjurações, geração após geração de conjuradores, aperfeiçoando com seus próprios erros e observações sendo esse o resultado que nos chegou hoje em dia. Espero que tenham gostado e até mais!
           
         

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